
Tal como o fiz no passado mês de outubro relativamente à 2ª edição do Campeonato Europeu de Andebol INAS (para jogadores com deficiência intelectual), o presente artigo é, uma vez mais, um relato de uma experiência pessoal ao invés de um artigo de opinião propriamente dito. O que pretendo é dar a minha visão pessoal daquele que foi o 3º Campeonato da Europa, que decorreu de 27 de junho a 1 de julho em Estarreja, inserido no Torneio Internacional de Andebol Juvenil “GarciCup 2018”.
Começo precisamente pela parte da organização, que esteve a cargo da ANDDI-Portugal (Associação Nacional de Desporto para Desenvolvimento Intelectual) com o apoio da Câmara Municipal de Estarreja (organizador do GarciCup), duas entidades que já tinham trabalhado juntas no passado noutras organizações quer nacionais, quer internacionais. Foi uma verdadeira prova de inclusão desportiva, aquela que foi vivida em Estarreja, dado que os jogadores do Europeu INAS estiveram completamente inseridos no GarciCup. Um excelente exemplo para o mundo dado por Portugal em termos organizativos. A este propósito, destaco ainda o apoio fundamental prestado pela Federação de Andebol de Portugal, pela Associação de Andebol de Aveiro e pela instituição local, a CERCIESTA.
Quanto à vertente desportiva, a Seleção Nacional portuguesa sagrou-se tricampeã europeia ao vencer na final a formação da Polónia por 24-22. Portugal mostrou mais uma vez estar um pequeno passo à frente das outras equipas, vencendo todos os jogos disputados. Voltou a mostrar uma fluidez de jogo superior aos adversários, mostrando bastante qualidade aos níveis exigidos.
Fazendo uma comparação com a equipa que se apresentou em França em outubro de 2017, o conjunto português perdeu por lesão, dois jogadores influentes: o lateral-esquerdo matosinhense Miguel Gonçalves (fez rutura total de ligamentos precisamente no Europeu de França) e o pivô Carlos Duarte (rutura do tendão de Aquiles). Face à ausência destas duas peças basilares, Portugal recorreu à polivalência do capitão José Teixeira, ao pivô fafense Jorge Fernandes (uma das boas surpresas da competição) e à jovem promessa do Padroense Futebol Clube, Luís Canena (o mais novo de sempre da Seleção – apenas 16 anos). Depois apareceram os “suspeitos” do costume, Diogo Silva (Melhor Jogador), Fábio Moleiro (Melhor Marcador), João Moleiro (MVP da Final), Adriano Moleiro (Melhor Guarda-Redes) e o regressado Vítor Pereira.
Quanto à Polónia, seleção finalista, apresentou um conjunto bastante idêntico ao do 2º Europeu mas mais trabalhado e com alguns reforços de peso, na verdadeira acepção da palavra. Orientados pelo antigo jogador internacional olímpico Zbigniew Staranowicz, a Polónia voltou a mostrar muitos argumentos sob o ponta de vista físico mas ao mesmo tempo um pouco mais evoluída também técnica e taticamente. Curiosamente, a sua grande figura do Europeu de 2017, o forte atirador Kamel Bak foi passando algo discreto pela competição, tendo-se destacado ao nível dos golos e da influência ofensiva da equipa o jovem Patryk Szoma (o melhor marcador polaco).
Quanto à 3ª classificada, a França, mostrou poucos argumentos perante as duas finalistas, tendo-se destacado o novo central da equipa, Salif Diallo por possuir um forte e colocado remate e o já conhecido canhoto Rémy Wilhem que foi alternado entre a ponta e a lateral direita.
De uma forma generalizada o nível de jogo apresentado em Estarreja foi algo semelhante ao de Cavalaire-sur-Mer, mas percebe-se que as equipas têm crescido e têm potencial para evoluir ainda mais, o que são bons indicadores para o futuro da modalidade nesta especialidade.
O que também é positivo são as perspetivas de participação de novas nações já nas próximas competições, como são o caso da Espanha (estiveram observadores neste Europeu), Itália, Suécia e Rússia, sendo que o próximo ano será importante para estimular estes mesmos países a participarem no próximo Campeonato da Europa que está já agendado para Vipiteno, em Itália, inserido na 2ª edição dos Jogos Europeus de Inverno INAS, em 2020.
Por fim, fazer uma referência final à primeira participação internacional de equipas femininas mas na variante de Andebol-5. Portugal e Polónia realizaram 3 jogos entre si, sendo que as polacas venceram os 3 encontros. Este encontro de seleções femininas decorreu em paralelo com o torneio masculino. Também no feminino as perspectivas futuras são bastante interessantes pois também já são conhecidos países que pretendem desenvolver internamente e formar as respetivas seleções.
Foto: FAP