
Faleceu no passado dia 5 de abril com 71 anos um dos grandes treinadores que passaram pelo andebol português e que influenciou muitos outros pelos seus métodos de trabalho, sendo que um foi, como o próprio o referiu na despedida, o atual Selecionador Nacional, Paulo Jorge Pereira, que foi adjunto do sérvio no FC Porto, antes de o suceder no cargo.
Pokrajac é um nome incontornável na modalidade mesmo em termos internacionais, dado o vasto currículo alcançado quer como jogador e posteriormente como treinador. Foi campeão olímpico como jogador em 1972 ao serviço da Jugoslávia, apontando 15 golos em seis jogos do torneio de Munique, além de medalhas de prata e bronze nos Mundiais de França'1970 e Alemanha'1974. Ao todo, marcou 510 golos em 180 internacionalizações, ao longo de 11 anos de carreira. Como treinador, esteve à frente da seleção da Jugoslávia em dois períodos distintos, primeiro entre 1980 e 1984, e depois em 2000/01, destacando-se a conquista da medalha de ouro nos Jogos Olímpicos de Los Angeles. Orientou também as seleções de Espanha (1985), Estados Unidos (1988), Qatar e Egipto.
Em Portugal, Pokrajac alcançou o sucesso ao serviço do FC Porto onde se sagrou por duas vezes Campeão Nacional (2001/02 e 2002/03), uma equipa que tinha nas suas fileiras jogadores como os guarda-redes Carlos Ferreira e os então jovens Hugo Figueira e Hugo Laurentino, Carlos Resende, Eduardo Filipe, Rui Rocha, Carlos Matos, Ricardo Costa, David Tavares, José Pedro Coelho, o pivô romeno Alexandru Dedu, o atirador sérvio Vladimir Petric, Manuel Arezes e Filipe Mota. Uma equipa de luxo para a época.
Precisamente Ricardo Costa, antigo ponta-direita da Seleção Nacional e atual treinador do FC Gaia refere esse mesmo facto ao referir que Pokrajac “tinha de facto ideias diferentes, e que gostava de pôr em prática. Tinha um leque de atletas que se podia dar a luxo de «inventar». Como colocar o Rui Rocha a segundo defensor, ou colocar o Carlos Matos a fazer o meio no 5:1” (ambos os jogadores com baixa estatura para defender em zonas centrais).
Conta ainda Ricardo Costa que o treinador sérvio “tinha a particularidade de fazer toda a preparação física dentro do pavilhão e o volume de treino era enorme mas ele consegue convencer os atletas que esse era o caminho”.
Na sua despedida a Pokrajac, utilizando a sua conta de Facebook, Paulo Jorge Pereira refere outro dos pontos mais fortes deste treinador que se tratava “dos valores humanos que tinha” sublinhado por Ricardo Costa ao referir que “Pokrajac era uma pessoa especial no trato com os atletas. Tinha uma forma muito inteligente de interagir com o atleta e era tudo menos básico no seu discurso. (…) Como todos os treinadores, tem coisas boas e algumas más. Era muitas vezes demasiado teimoso e custava-lhe dar o «braço a torcer».
No entanto, há quem refira que o seu sucesso no FC Porto se deveu sobretudo à qualidade do plantel e que as suas ideias não resultavam assim tão bem quanto podiam transparecer, no entanto e apesar destas opiniões, Ricardo Costa finaliza referindo que “foram dois anos especiais onde conseguimos ter êxito desportivo, mais do que isso fica a forma competente como liderou a equipa”.
No Sporting, onde esteve entre 2010 e 2012, não alcançou o mesmo sucesso dando razão aos críticos e por parecer que as suas ideias já não serem tão inovadoras quando eram uma década antes.
A nível pessoal, o aparecimento de Pokrajac no andebol português deu-se poucos anos antes do início da minha carreira enquanto treinador e as suas ideias eram muito faladas nos cursos de treinadores na primeira metade da década de 2000. Até ao nível do aquecimento, o treinador tinha ideias muito próprias em alguns dos exercícios, da forma como deviam ser realizados e até no posicionamento dos atletas na forma de aquecer. O próprio Pokrajac chegou a participar em Clinics onde abordava a sua metodologia de trabalho, considerada inovadora nessa altura.
Além de jogador e treinador, Pokrajac exerceu ainda as funções de docente na Faculdade de Educação Física de Belgrado, e a vertente académica, aliada ao sucesso na prática, valeu-lhe a alcunha de ‘Doutor Andebol’.
Um agradecimento especial a Ricardo Costa pela preciosa colaboração neste artigo.
Foto: Jorge Aguiar / Global Imagens