A RTP Memória proporciona-nos ocasionalmente a possibilidade de visionamento de jogos de Andebol do final dos anos 80 até meados/finais dos anos 90 e facilmente se constata que a modalidade sofreu uma grande evolução desde então até aos dias que correm.
Claro que um dos fatores primordiais foi a alteração de algumas das regras de jogo que permitiram que o jogo se tornasse mais veloz, dinâmico e intenso.
Apesar de eu efetuar esta reflexão comparativa apenas em jogos disputados em competições portuguesas pode facilmente tirar-se as seguintes conclusões relativamente ao jogo:
Nos anos 80/90 observamos…
… um jogo pouco dinâmico;
… uma intensidade baixa e com ritmo algo lento;
… defesas pouco agressivas (no bom sentido);
… defesas sobretudo fechadas e bastante estanques (normalmente 6:0 bem encostado aos 6 metros);
… transições ofensivas sobretudo “na certa”, ou seja, em Contra-Ataque Direto;
… ataques na maioria des vezes lentos e pouco dinâmicos;
… ataques a depender essencialmente das ideias do jogador central e com laterais atiradores sobretudo com remates exteriores;
… algumas/poucas combinações ofensivas sobretudo exteriores e com base em cruzamentos.
Atualmente constatamos que o jogo se tornou…
… dinâmico, disputado a grande velocidade;
… intenso e com ritmos elevados;
… agressivo defensivamente com grande mobilidade defensiva e antecipando-se inclusivamente ao ataque adversário;
… bastante móvel defensivamente com defesas abertas e fechadas e com alternância de sistemas defensivos ao longo do jogo;
… fundamentalmente num jogo veloz com grande aproveitamento das transições para o ataque com ataques rápidos, contra-ataques diretos e/ou apoiados;
… bastante dinâmico em termos ofensivos com circulação de bola lenta num primeiro momento e rápida num segundo (alternância de ritmos), com várias trocas de posicionamento entre os atacantes;
… não só dependente das ideias do jogador central, que continua a liderar as ações ofensivas, mas também de todos os elementos da equipa que tomam iniciativas para finalizar os ataques com sucesso seja na 1ª linha ou na 2ª linha;
… de constantes combinações ofensivas interiores ou exteriores onde participam todos os jogadores em diferentes sequências ofensivas e onde já se inclui também, por vezes, o guarda-redes avançado.
É precisamente neste último elemento – o Guarda-Redes – onde ainda assim não noto grandes diferenças, muito porque nesse tempo Portugal tinha nas suas equipas guardiões que ainda hoje são as grandes referências das balizas portuguesas. A qualidade de nomes como Carlos Silva, Miguel Fernandes, Carlos Ferreira ou Paulo Morgado ajudam a camuflar as prováveis carências de treino neste setor naquelas épocas.
Quero, no entanto, salvaguardar que estas diferenças observadas nada têm a ver com a qualidade dos jogadores da época, até porque nestes anos jogavam em Portugal vários jogadores estrangeiros de qualidade e muitos talentos como são os casos de Luís Graça ou Paulo Bunze que se encontram na foto que documenta este artigo. Simplesmente o tempo era diferente e o Andebol era também praticado de forma diferente.
Convido o leitor menos atento a experienciar a situação que aqui exponho: observar um jogo de andebol de há 20/25 anos atrás e fazer uma crítica comparativa com um jogo atual e constatar as diferenças que aqui apontei.
Aproveito também para desejar um fantástico 2016!
Foto: Paulo Bunze/facebook